FREIRE, ANTÓNIO (1990) LENDO MIGUEL TORGA. PORTO: ED. SALESIANAS. DE 21X14 CM. COM 280 PÁGS. B.
“Pretendi escrever uma obra sobre Miguel Torga, na qual patenteasse todo o entusiasmo que me empolga pela figura ímpar deste escritor e comunicasse aos leitores (jovens e adultos) o gosto pela leitura das obras (em prosa e em verso) daquele que ouso apelidar um dos expoentes mais altos do português actual.
Como cinzelador da prosa portuguesa, possui os predicados que mais de molde concorrem na formação de bons escritores do nosso idioma: robustez e clareza de estilo, pujança de imaginação, vernaculidade e criatividade poética. Se por um lado é o maior entalhador da prosa portuguesa actual, só comparado, porventura, a Vieira e Camilo, por outro o seu poder de criatividade é tal que faz dele poeta criador, até quando escreve em prosa: maior prosador que poeta, maior poeta porque prosador.
Numa geração prolífica em bons escritores, como a nossa, não fica descabido realçar o mérito de Miguel Torga, tanto mais que, desde os seus primeiros tentames literários, tanto os próceres do Poder como os pontífices da Literatura lhe foram adversos: uns com a perseguição sistemática, outros com o silêncio, que são as alfinetadas que mais têm pungido a sensibilidade torguiana.
Não conheço pessoalmente Miguel Torga. O preito que lhe rendo é isento de compadrios ou mecenatismos. Torga é o que há de mais avesso a convencionalismos. Portugal começa a compreendê-lo e a fazer-lhe justiça. A melhor é a divulgação das suas obras, para despertar nos jovens o gosto pela leitura genuinamente portuguesa e pela criatividade literária. Por isso, quisemos que este livro fosse um aperitivo para atrair os leitores para a obra integral de Miguel Torga. Sempre que pudemos, deixámos que fosse Torga a falar.
Até nos defeitos que, aqui e além, lhe apontamos, nos servimos da confissão do próprio Torga. Nem ele nem ninguém terá de levar-nos a mal, pois procurámos não sair da obra de Torga. Tentámos interpretá-lo com a máxima compreensão, E se, como ele diz, só quem ama, é que vê, estou certo de haver acertado, dada a simpatia com que abordei este estudo bastante complexivo. Oxalá muitos outros se entusiasmem como eu!”
Nota: exemplar manuseado e com algum desgaste, mais evidente na capa.