ARTHUR, RIBEIRO (2004) A LEGIÃO PORTUGUEZA AO SERVIÇO DE NAPOLEÃO (1808 -1813). LISBOA: ARQUIMEDES LIVROS. DE 21X15 CM. COM 151, [1] PÁGS. ILUST. B.
É clássico e um estudo ainda muito estimado sobre a Legião Portuguesa ao serviço de França; uma fonte de informação e de divulgação da história militar de Portugal nas suas vertentes humana e material.
Cuidada edição fac-simile da original publicada em Lisboa no ano de 1901.
“Pelo tratado de Fontainebleau, assinado por Duroc, em nome de Napoleão, e por Eugenio Isquierdo, representante de Carlos IV de Espanha, em 29 de Outubro de 1807, dividia-se Portugal em três partes das quais a Lusitânia Setentrional, compreendendo as províncias de Entre-Douro-e-Minho, era dada à infanta de Espanha, destronada da Toscânia, o Principado dos Algarves, composto. das províncias do Alentejo e do Algarve, seria o prémio que o príncipe da Paz ganharia pela sua anuência às vontades de Napoleão. O centro do País ficaria nas mãos dos franceses, podendo, por ocasião da paz geral, ser entregue à casa de Bragança. Para fazer executar estas determinações do omnipotente imperador dos franceses, um exército de vinte e tantos mil homens, comandado pelo general Junot, pôs-se em marcha para Portugal.
E assim a nação que conquistara o melhor do seu território impelindo adiante da rutila espada os muçulmanos invasores da península, que firmara a sua independência em batalhas homéricas como a de Aljubarrota, em combates gloriosos como o das Linhas de Elvas ia ser ignobilmente retalhada ao aceno dum homem, e porquê? Porque de séculos aliada à Inglaterra, que depois da restauração bragantina adquirira sobre o governo do país uma poderosa influência, não podia coadjuvar Napoleão no seu extraordinário sonho do bloqueio continental. Fechar os nossos portos à Inglaterra era impossível; todavia o pusilânime príncipe regente D. João, temendo as iras do orgulhoso conquistador, resolveu iludi-lo, fingindo hostilizar os ingleses. Napoleão, porém, não se iludia facilmente, e a notícia do tratado de Fontainebleau rebentou como uma bomba no meio da corte portuguesa.
Que fazer? O natural seria exigir o auxílio dessa Inglaterra por causa de quem tentavam sacrificar-nos e dispor enérgica e rapidamente todas as forças do país para a resistência.
Pois não. O príncipe regente, aconselhado pelo seus amigos ingleses, que por este passo veriam abrir-se ao seu comércio os nossos magníficos portos da América, embarcou acompanhado pela família real nos navios da esquadra portuguesa, surtos no Tejo, e fugiu para o Brasil.
Numa proclamação em que anunciava a sua partida recomendava ao povo que recebesse os franceses como amigos.” P.1