IMAGENS DO EU NA POESIA DE FLORBELA ESPANCA

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ALONSO, CLÁUDIA PAZOS (1997) IMAGENS DO EU NA POESIA DE FLORBELA ESPANCA. LISBOA: IMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA. DE 24X16 CM. COM 275, [2] PÁGS. B.

As vicissitudes do percurso biográfico de Florbela Espanca em muito têm contribuído para a lenda que se criou à sua volta, quase sempre, porém, em detrimento de uma análise mais aprofundada do conteúdo da sua obra. O que é de lamentar. O presente estudo propõe-se esclarecer como a imagística de Florbela, alimentada é certo pela sua vivência do mundo, adquire contornos de insuspeitada densidade, através duma elaboração poética original. Na oscilação entre a imagem da monja por um lado, e a da deusa sedutora por outro, ao dimensionar-se ora como "Soror Saudade", ora como divindade pagã, irradiante "charneca em flor", Florbela incessantemente se reinventa e se desdobra, tocando as raízes do nosso inconsciente colectivo.

Chegado o momento de ser fiel à sua verdade interior, é com Charneca em Flor que Florbela se liberta do peso opressivo de uma cultura patriarcal de tradição secular. A nível simbólico, esta obra assinala sem dúvida um momento fundamental de emancipação feminina. As circunstâncias da sua publicação - veio a lume escassas semanas após a morte da poetisa - de imediato asseguraram a projecção da autora para a fama. Uma fama que não a deixou mais, aumentando de ano para ano.

Ainda hoje, transcorridos mais de cem anos sobre o seu nascimento, o apelo de Florbela persiste. Porquê? Talvez porque ler Florbela é como pegar num espelho que reflecte, limpidamente, lapidamente, as vivências e contradições que, na nossa cultura, estão ancoradas na mulher, no feminino. E porque, para além disso, a busca ansiosa do "eu", a procura incessante de um equilíbrio interior passível de integração no mundo exterior, o medo e deslumbramento perante a liberdade intrínseca do ser? tudo isso, e muito mais, Florbela evoca magistralmente num percurso que é afinal um pouco o de todos nós.

Cláudia Pazos Alonso vive no Reino Unido. Doutorou-se pela Universidade de Oxford e é Professora de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade de Newcastle upon Tyne.

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